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Pode considerar-se que a história da borracha é relativamente recente, remontando o seu início a cerca de 170 anos atrás. Com efeito, embora sendo conhecida desde 1493-1496 (2ª viagem de Cristóvão Colombo às Américas), o seu desenvolvimento surge, de facto, com a descoberta da vulcanização pelo americano Charles Goodyear (1839) e pode afirmar-se que até cerca de 1930 a história da borracha, da sua tecnologia e da sua industrialização é praticamente a história da borracha natural (borracha virgem).
Segundo o historiador espanhol António de Herrera(1), Cristóvão Colombo e seus companheiros de viagem foram os primeiros europeus a tomar conhecimento da borracha virgem. Os indígenas do Haiti utilizavam este material num tipo de jogo, sob a forma de bolas (Figura 1). Cristóvão Colombo e os seus companheiros verificaram ainda que os indígenas eram portadores de calçado e de peças de vestuário impermeável à água. Desta utilização dá-nos também conta o historiador espanhol Fernando d’Oviedo, na sua “História das Índias”, publicada em Madrid em 1536(2).
Fig.1 – Jogo de bola registado por artista francês desconhecido em 1591
Como atrás dissemos, na civilização Olmeca já era utilizada borracha natural – entre outras aplicações, na confecção de bolas que eram utilizadas num jogo similar ao praticado pelos indígenas do Haiti, que atrás também já referimos. A borracha – uma “resina elástica” – era obtida a partir de um líquido branco, com aspecto leitoso (a que mais tarde foi dado o nome de “látex”), substância que era extraída de certo tipo de árvores e que solidificava gradualmente por exposição ao ar, tornando-se numa massa de cor escura. As civilizações que se seguiram aos Olmecas – Aztecas, Mayas e Incas, praticavam o mesmo jogo, com bolas obtidas de forma idêntica.
O historiador espanhol Tordesillas(2) descreve também no seu livro “Conquistas Espanholas” (1601), a forma como os Índios das Antilhas e do Peru procediam à recolha do látex que utilizavam, posteriormente, na confecção de alguns objectos rudimentares, onde era necessária uma certa “flexibilidade” e até mesmo “elasticidade”.
Mais tarde, é também um historiador espanhol, Juan de Torquemada(2), que descreve a utilização pelos Índios do México, de um produto por eles denominado “ulei”, obtido a partir de um certo tipo de árvores, a que chamavam “ule”. O “ulei” era utilizado na impermeabilização de calçado e de peças de vestuário. Também da destilação do “ulei” obtinham um “óleo” que era utilizado como anti-hemorrágico. Actualmente, em língua mexicana, a palavra “hule” significa borracha.
Os Índios Mainas, habitantes das margens do rio Amazonas, denominavam certo tipo de árvores por “hévé” e o material delas obtido por “caa-u-chu”, significando “caa” – árvore e “o-chu” – escorrer ou chorar(1)(7).
Os estudos levados a cabo na América do Sul, pelos franceses C.M. de La Condamine e C.F. Fresnau, entre 1736 e 1744(1)(7), levaram ao conhecimento de vários tipos de árvores nas quais, uma pequena incisão praticada no caule, possibilitava a obtenção de látex. A uma das variedades descoberta por Fresnau, nas Guianas, foi dado o nome de “Hevea Guianensis”; à variedade predominante no Brasil foi dado o nome de “Hevea Brasiliensis”.
Nos anos que se seguiram foi sendo constatado que muitas outras espécies botânicas possibilitavam a obtenção de látex e que tampouco era apenas o continente sul americano o único em que existiam espécies botânicas com essas características. Foi verificada a existência de várias espécies botânicas dotadas de função “lacticigénea” (geradora de látex) noutros continentes, nomeadamente na África e na Ásia.
Pode dizer-se, de um modo geral, que as espécies botânicas que permitem a obtenção de látex abundam nos países situados nas latitudes que correspondem às zonas tórridas e quentes, tais como o México, Peru, Brasil, Equador, Haiti, Zaire, Angola, Moçambique, Guiné, Costa do Marfim, Nigéria, Índia, Paquistão, Malásia, Sri Lanka, Tailândia, Indonésia, Timor, etc.
Convém acentuar desde já que nem todos os “látex” permitem obter materiais com as características da borracha, isto é, características “elásticas”. O látex é constituído por um “suco celular”, que é uma solução aquosa de substâncias minerais e orgânicas, contendo em suspensão substâncias que podem possuir – ou não – características de borracha. Convém também não confundir o látex com a seiva vegetal; o engenheiro francês Amédée Fayol, no seu livro “Le Caoutchouc”, publicado em 1909(2), estabelece a comparação de que “o látex está para a seiva vegetal, assim como o leite animal está para o sangue”.
A borracha permaneceu durante quase três séculos, após a sua descoberta pelos europeus, como um material sem grande utilização. Os estudos levados a cabo em França, em 1761, pelos químicos Hérrissant e Macquer(2)(7) conduziram à descoberta do poder dissolvente da borracha pelo éter e pela essência de terebintina (substância que é vulgarmente conhecida como “aguarrás”). Esta descoberta veio permitir um certo desenvolvimento na aplicação da borracha natural, até então utilizada praticamente apenas como “borracha de safar”, de acordo com uma recomendação do químico inglês Pristley (1770)(3)(7). Daí o seu nome em língua inglesa – “rubber”.
O inglês S. Peal, o francês Besson (1793), o americano Champion (1811) e mais tarde o escocês Macintosh (1823)(2)(7) desenvolveram o processo de impregnação de tecidos com solução de borracha, para aplicação na confecção de peças de vestuário impermeáveis à água. Em 1800 existia, no Brasil, a única fábrica de borracha do mundo; esta fábrica produzia vestuário e calçado impermeáveis à água(4). Na Europa, a primeira fábrica de borracha foi instalada em 1803, em França, perto de Paris. Esta fábrica produzia bandas elásticas, as quais não eram necessariamente vulcanizadas, pois que o processo de vulcanização não havia sido ainda descoberto; a elasticidade dessas bandas devia-se, exclusivamente, ao elevado “nervo” da borracha natural crua. Com estas aplicações, o consumo mundial de borracha cresceu rapidamente: 31 Ton. em 1822; 30 Ton. em 1825; 51 Ton. em 1828; 156 Ton. em 1830 e 394 Ton. em 1840.
É de facto com a descoberta da vulcanização que a borracha começa a encontrar inúmeras utilizações. Por outro lado, a descoberta da vulcanização surge numa época particularmente importante, pois que coincide praticamente com o início da Revolução Industrial. Com o rápido desenvolvimento dos caminhos de ferro, com a construção de grandes navios em aço e com o desenvolvimento da indústria em geral, as necessidades de borracha (agora “vulcanizada”) cresceram acentuadamente (388 Ton. em 1850; 2670 Ton. em 1860; 8000 Ton. em 1870 e 13.000 Ton. em 1880). Estas necessidades eram praticamente satisfeitas com borracha natural – borracha virgem – recolhida na floresta amazónica brasileira e provenientes da espécie “Hevea brasiliensis”, espécie que existia em abundância na bacia amazónica(5)(10)(11).
A colheita do látex era uma tarefa particularmente difícil, face às condições extremamente duras em que era feita. Chegou, por outro lado, a atingir os aspectos dramáticos inerentes ao regime da escravatura. A recolha do látex era feito pelas populações indígenas utilizando técnicas muito primitivas, sacrificando muitas vezes as árvores, cortando-as. Os rendimentos das colheitas eram, por outro lado, muito baixos. Com o rápido crescimento do consumo surgiram as primeiras dificuldades de abastecimento. Dos 31 centros brasileiros de recolha existentes em 1827, rapidamente se chegou a 2600 centros em 1857(5).
Com a escassez de borracha nos mercados, surgiu a ideia de cultivar mais árvores de borracha. A ideia foi empreendida pelos ingleses e neste projecto desempenhou um papel extremamente relevante Henry Wickham (1876)(2)(5)(6)(7)(9)(11), que esteve na base do projecto de recolha e transporte de cerca 70.000 sementes de “Hevea brasiliensis” para o Royal Botanic Garden (Kew Garden), em Londres, onde apenas cerca de 4% das sementes germinaram. Rapidamente, em 36 caixas de “mudas”, foram transportadas para Ceilão (actual Sri Lanka), onde se desenvolveram e cresceram vigorosamente. Ainda existem, actualmente, algumas destas árvores.
Em 1877, 22 “mudas” de “Hevea brasiliensis” foram enviadas para Singapura, onde também se desenvolveram rapidamente. Pode dizer-se que estava definitivamente lançada na península malaia, então ainda sob o domínio britânico, a produção de borracha natural “em plantação”. Posteriormente, a cultura de heveas estendeu-se também à Indonésia, então sob o domínio holandês(11).
Algumas invenções entretanto efectuadas vieram também a ter uma notável influência na evolução do consumo de borracha natural. Assim, em 1845 o escocês R.W. Thompson inventa o pneumático, mais tarde (1888) aperfeiçoado por um outro escocês, J.B. Dunlop, que então aplica os primeiros pneumáticos em bicicletas (Figuras 2 e 3).
Fig.2 – Pneu de RW Thompson, 1845
Fig.3 – Pneu de JB Dunlop, 1888
O sucesso deste invento atinge uma maior importância com a invenção do motor de combustão interna (1860), que se deve ao francês Étienne Lenoir. O posterior aperfeiçoamento do motor de combustão interna e a sua aplicação ao automóvel, ficou a dever-se ao particular empenhamento dos alemães G. Daimler, Carl Benz e W. Maybach (1885-1889) e dos franceses Panhard e Lavassor (1891-1895).
A aplicação dos primeiros pneumáticos a veículos automóveis deve-se aos irmãos franceses A. Michelin e E. Michelin (1895); esta aplicação e o posterior desenvolvimento da indústria automóvel proporcionaram, desde logo, uma elevada utilização e procura de borracha.
Com o crescente aumento de consumo da borracha natural, a procura rapidamente ultrapassou a oferta, atingindo então preços muito elevados. Fez-se então sentir a insuficiência da fonte de abastecimento tradicional – o Brasil. Em 1912, quando as plantações da Malásia começaram a produzir borracha a preços mais baixos, a produção de borracha virgem brasileira entrou em rápida decadência e o Brasil, que chegou a ter o monopólio dos fornecimentos de borracha, não possuía mais do que 42% do mercado em 1910 e apenas 2% em 1930!(6)(10)
O Quadro 1 mostra a evolução do consumo mundial de borracha natural. Dos valores apresentados ressalta à vista o consumo verificado por ocasião da I Guerra Mundial (1914-1918), onde a utilização de veículos a motor desempenhou já um papel preponderante.
Quadro 1 – Consumo Mundial de Borracha Natural (ton.) | |||||
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Ano | Quantidade | Ano | Quantidade | Ano | Quantidade |
1822 | 31 | 1920 | 302500 | 1995 | 5989000 |
1825 | 30 | 1925 | 562500 | 2000 | 7340000 |
1828 | 51 | 1930 | 817500 | 2005 | 9049000 |
1830 | 156 | 1935 | 955000 | 2006 | 9513000 |
1840 | 394 | 1936 | 1062500 | 2007 | 10138000 |
1850 | 388 | 1937 | 1107500 | 2008 | 10187000 |
1860 | 2670 | 1938 | 970000 | 2009 | 9289000 |
1870 | 8000 | 1939 | 1122500 | 2010 | 10759000 |
1880 | 13000 | 1940 | 1127500 | 2011 | 11034000 |
1890 | 28867 | 1941 | 1127500 | 2012 | 11046000 |
1900 | 52500 | 1942 | 777500 | 2013 | 11430000 |
1905 | 70000 | 1943 | 625000 | 2014 | 12181000 |
1910 | 102500 | 1944 | 395000 | 2015 | 12140000 |
1913 | 132500 | 1945 | 266500 | 2016 | 12685000 |
1914 | 122550 | 1946 | 312500 | 2017 | 13217000 |
1915 | 162500 | 1950 | 1750000 | 2018 | 13767000 |
1916 | 187500 | 1960 | 2095000 | 2019 | 13640000 |
1917 | 225000 | 1970 | 2990000 | 2020 | 12702000 |
1918 | 237500 | 1980 | 3760000 | 2021 | ─ |
1919 | 317500 | 1990 | 4177000 | 2022 | ─ |
Fontes: IRSG – International Rubber Study Group (1822-2000); MRB – Malaysian Rubber Board (2005-2014) e Statista (2015-2020) |
Na Figura 4 mostra-se a evolução do consumo mundial percentual de borracha natural (consumo de NR em percentagem do consumo de NR+SR). Esta percentagem tem apresentando uma tendência de ligeiro crescimento, aproximando-se do valor de 50%.
Figura 4 – Evolução do consumo mundial percentual de borracha natural
Quando da II Guerra Mundial, a importância da borracha natural foi ainda maior, como era, aliás, de esperar. No entanto, o seu consumo baixou progressivamente a partir de 1942 e ainda mais acentuadamente a partir do momento em que os japoneses se envolveram no conflito, o que provocou a suspensão quase completa da produção dos países do sudoeste asiático.
As principais potências envolvidas no conflito puderam então contar com borracha produzida sinteticamente, cuja produção resultou de trabalhos de investigação que tinham tido o seu início em 1916, em plena I Guerra Mundial, quando os alemães se viram então privados do fornecimento de borracha natural. O progresso destes trabalhos encontrou o seu êxito na descoberta do “processo de polimerização” (1909), que ficou a dever-se aos ingleses W.H. Perkin Jr., Fernbach, F. E. Mathews, E. H. Strange, W. Ramsay e C. Weizman, e ao alemão C. D. Harries(6)(7).
Em 1909 o alemão Fritz Hoffmann(6)(7) obtém a primeira patente para produção de borracha sintética. A produção de 2,3-dimetil-polibutadieno foi iniciada na empresa Bayer Company em 1911, mas somente em 1916, com a reconstrução das unidades produtoras do monómero e do polímero, foi desenvolvido o processo de produção em escala industrial de borracha metílica, a partir do dimetilbutadieno. A polimerização desta borracha era efectuada na presença do sódio; daí a denominação de “BUNA” – BUtadieno + NAtrium. A produção desta borracha foi, em 1916, da ordem das 150 Ton. por mês e durante o período da guerra a produção desta borracha não excedeu as 2.500 Ton. Esta borracha ficava muito cara, razão pela qual, terminado o conflito, o projecto foi abandonado(7)(8).
No final de década de 20, existia um acordo de cooperação entre a empresa americana Standard Oil Company e a empresa alemã I.G. Farben (6). Os americanos estavam interessados no processo da I.G. Farben de produção de “Buna” e os alemães no processo da Standard Oil Company de produção de “borracha de poliisobutileno”. Em 1929 e 1930 os alemães Bock e Tschunker(8) desenvolveram processos de fabricação de borracha sintética a partir do butadieno, afinal um tipo de borracha muito similar ao actual “SBR”. Foi designada por “BUNA S” (Butadiene + Styrene); um outro tipo, muito similar ao actual “NBR” foi também produzido e designado por “BUNA N” (Butadiene + Nitrile); este tipo de borracha era muito caro, mas tinha a particularidade resistir aos óleos.
Entretanto, também nos Estados Unidos da América do Norte, em 1929, é iniciada a produção de uma borracha resistente aos óleos, aos solventes e ao ozono, muito impermeável, que foi designada por “Thiokol” (borracha de polissulfureto). O processo de fabrico deve-se aos americanos Patrick e Mnookin(8). Uma borracha idêntica foi produzida na Bélgica, com o nome de “Ethanite”(8).
Em 1931, a empresa americana DuPont de Nemours desenvolve a produção de uma borracha sintética a partir do clorobutadieno, a que deu o nome de “Duprene”. O desenvolvimento desta borracha ficou a dever-se a Carothers e Collins(8). Esta borracha recebeu, em 1936, o nome de “Neopreno”, material muito conhecido e que ainda nos dias de hoje possui a mesma denominação. Esta borracha é particularmente resistente aos agentes físicos e químicos, possui uma moderada resistência aos óleos e tem também características de resistência à chama. O preço do “Neopreno” era, na época, relativamente elevado, razão pela qual a sua utilização se resumia a aplicações especiais. Em plena guerra, em 1941, a produção de “Neopreno” não ultrapassou as 8000 Ton.; em 1942 a produção foi de 8.998 Ton.; em 1943 foi de 33.648; em 1944 foi de 58.102 Ton. e em 1945 foi de 45.651 Ton.
Com o início da II Guerra Mundial, a cooperação entre americanos e alemães foi suspensa, tendo os trabalhos de investigação prosseguido independentemente.
Com a suspensão dos fornecimentos de borracha natural do sudoeste asiático, devido à sua ocupação pelos japoneses, Estados Unidos e Canadá rapidamente desenvolveram um projecto para a produção, em grande escala, de borracha de butadieno e estireno, então designada por “GR-S” (iniciais de Government Rubber Styrene). Entre 1942 e 1944 foram construídas nos Estados Unidos 87 fábricas, as quais possuíam uma capacidade global anual de um milhão de toneladas(6)(8).
Entretanto na Alemanha e pelas mesmas razões, foi activada a produção de “Buna S” e de “Buna N”, tendo sido construídas cinco grandes fábricas, com uma capacidade total de produção de 175.000 Ton. No entanto, por razões várias, a produção máxima destas fábricas apenas atingiu o valor de 117.613 Ton. no ano de 1943. A produção de “Buna S”, que havia sido de 2000 Ton. em 1937, foi de 40.000 Ton. em 1940, de 70.000 Ton. em 1941 e de 103.000 Ton. em 1944(7).
Com o termo das hostilidades, pensou-se que o retorno à borracha natural era inevitável. Contudo, os progressos na produção de borracha sintética continuaram e foi produzida a borracha de estireno-butadieno polimerizada a frio, a qual possuía, em muitos aspectos, características superiores à borracha natural. Por outro lado, o rápido crescimento da procura de borracha cedo mostrou que o abastecimento de apenas borracha natural não poderia satisfazer as necessidades.
Com as fábricas alemãs desactivadas, apenas os Estados Unidos e o Canadá estavam em posição de produzir borracha sintética. O conflito da Coreia, em 1951, e a crise do Canal de Suez, em 1956, vieram por a nu a fragilidade das economias ocidentais relativamente aos fornecimentos de borracha natural ou mesmo sintética(7).
No final de década de 50 e princípio da década de 60 foram construídas na Europa sete fábricas de borracha sintética (França, Inglaterra, Holanda, Espanha, Itália, Bélgica e Alemanha Ocidental). Mais tarde, foram construídas fábricas no Brasil, México, Argentina, Japão e Austrália. Estava assim definitivamente lançada e estabelecida a indústria da borracha sintética a nível mundial.
Entretanto outros tipos de borracha sintética foram desenvolvidos, nomeadamente as borrachas de poliuretano, poliisopreno, polibutadieno, etilenopropileno, fluoradas, poliisobutilenoisopreno halogenado, polietilenoclorossulfonado, poliacrilato, polinorborneno, epiclorohidrina, óxido de etileno, nitrilo carboxilado, etc.
No Quadro 2 é mostrada a evolução do consumo mundial de borracha sintética.
Quadro 2 – Consumo Mundial de Borracha Sintética (ton.) | |||||
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Ano | USA/Canada | Alemanha | Total | ||
1937 | ─ | 2000 | 2000 | ||
1938 | ─ | 5000 | 5000 | ||
1939 | 1778 | 22000 | 23778 | ||
1940 | 2601 | 40000 | 42601 | ||
1941 | 8518 | 69000 | 77518 | ||
1942 | 22794 | 98000 | 120794 | ||
1943 | 238003 | 117613 | 355616 | ||
1944 | 810256 | 104000 | 914256 | ||
1945 | 879988 | ─ | 879988 | ||
1946 | 803700 | ─ | 803700 | ||
1947 | 559938 | ─ | 559938 | ||
1948 | 537282 | ─ | 537282 | ||
1949 | 447398 | ─ | 447398 | ||
1950 | 543203 | ─ | 543203 | ||
1960 | ─ | ─ | 2347000 | ||
1970 | ─ | ─ | 5622000 | ||
1980 | ─ | ─ | 8785000 | ||
1990 | ─ | ─ | 9630000 | ||
2000 | ─ | ─ | 10830000 | ||
2005 | ─ | ─ | 11731000 | ||
2010 | ─ | ─ | 13225000 | ||
2015 | ─ | ─ | 14564000 | ||
2016 | ─ | ─ | 14790000 | ||
2017 | ─ | ─ | 15195000 | ||
2018 | ─ | ─ | 15308000 | ||
2019 | ─ | ─ | 15187000 | ||
2020 | ─ | ─ | 14223000 | ||
Fontes:
|
No Quadro 3 mostra-se o consumo mundial dos principais tipos de borracha sintética em 1977 e em 2018. Os vários tipos de borracha sintética actualmente existentes proporcionam aos técnicos um amplo leque de opções, com áreas de utilização muito específicas.
Quadro 3 – Consumo Mundial de Borracha Sintética por Tipo (1977 e 2018) | ||||
Elastómeros | 1977 | 2018 | ||
x 1000 | % | x 1000 | % | |
SBR | 3328 | 58,3 | 3062 | 20,0 |
SBC (1) | ─ | ─ | 1225 | 8,0 |
BR | 895 | 15,7 | 3521 | 23,0 |
IR | 208 | 3,6 | ─ | ─ |
EPM-EPDM | 290 | 5,1 | 3184 | 20,8 |
CR | 318 | 5,6 | ─ | ─ |
IIR | 386 | 6,8 | 2373 | 15,5 |
NBR | 190 | 3,3 | 1301 | 8,5 |
Outros Tipos | 91 | 1,6 | 643 | 4,2 |
Total SR | 5706 | 15308 | ||
Total NR | 2984 | 13767 | ||
Total SR+NR | 8690 | 29075 | ||
% NR | 34,3 | 47,3 | ||
% SR | 65,7 | 52,7 |
(1) SBC = Styrene Block Copolymer, elastómero termoplástico.
Fonte: International Institute of Synthetic Rubber producers (IISRP)
No Quadro 4 é apresentada uma resenha dos principais inventos e descobertas que mais contribuíram para o desenvolvimento da Indústria da Borracha. Este quadro resume, de certo modo, o conteúdo deste capítulo.
Quadro 4 – Principais Contributos no Estabelecimento e Desenvolvimento da Indústria da Borracha | ||
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Quando | Quem | Contributo |
1493-1497 | Cristóvão Colombo | Genovês. Foi o primeiro europeu a tomar conhecimento da borracha virgem, utilizada pelos indígenas do Haiti, em forma de bolas de jogar. |
1747 | C.M. de La Condamine C.F. Fresnau |
Franceses. Descobrem a “árvore da borracha”. |
1819 | Thomas Hancock | Inglês. Inventa o processo da “mastigação” da borracha natural, utilizando o seu “mastigador” (masticator). |
1823 | Charles MacIntosh | Inglês. Regista a patente do uso da nafta como solvente da borracha. |
1826 | Faraday | Atribui à borracha a fórmula empírica C5H8. |
1837 | Thomas Hancock Chaffe |
Inventa a máquina de enducção Americano. Inventa a calandra. |
1839 | Charles Goodyear | Americano. Descobre a “vulcanização”. A palavra “vulcanização” é derivada de Vulcano, deus do fogo (figura da mitologia romana). Terá sido William Brockden, um amigo de Charles Goodyear, o responsável por esta denominação. |
1843 | Thomas Hancock | Regista a patente dum processo de vulcanização análogo ao de Chrles Goodyear. |
1845 | RR.W. Thompson Henry Beweley R.A. Brooman |
Inglês. Inventa o “pneumático”. Irlandeses. Inventam a extrusora de êmbolo. |
1860 | Greville Williams | Reconhece que a borracha natural é um “polímero” do isopreno. |
1870 | W. Kiel, J. Prior, J. Royle M. Gray de Wolfe, F. Shaw |
Americanos. Ingleses. Separadamente inventam a extrusora de fuso. |
1876 | Henry Wickham | Inglês. Estabelece a cultura da borracha em plantação nas ilhas de Java (Indonésia), Bornéu (Indonésia e Malásia) e Ceilão (Sri Lanka). |
1888 | H.N. Ridley | Desenvolve as plantações de borracha natural em Singapura. |
1888 | J.B. Dunlop | Escocês. Concebe e concretiza a fabricação de pneumáticos. Tratava-se duma câmara de ar tubular, em borracha, com uma cobertura de camadas de borracha e teia gomada. |
1889 | Charles Woods | Inventa o tipo de válvula ainda hoje utilizada e conhecida por válvula tipo “Dunlop/Woods”. A patente de pneumáticos para bicicleta, dotado de uma válvula deste tipo, foi registado por J.B. Dunlop. No fim deste ano era constituída, em Dublin, a empresa Pneumatic Tyre & Booth’s Agency Limited. |
1890 | G.B. Pirelli & Cª | A emresa é constituída em Milão, dando início à produção de pneumáticos para bicicletas “Milano”, em tecido gomado com borracha. |
1895 | André & Eduardo Michelin |
Os irmãos Michelin constróem os primeiros pneumáticos para automóveis, que foram utilizados na corrida Paris-Bordéus. |
1904 | S.C. Mote & F.C. Mathews | Ingleses. Descobrem o efeito reforçante do negro de fumo. |
1908 | Wo. & Wa. Oswald
G. Oenslager |
Alemães. Registam a patente relativa à utilização de anilina como “acelerador” da vulcanização. Esta descoberta é também atribuída ao americano Oenslager, o qual descobriu muitos outros aceleradores de vulcanização. |
1909-1910 | W.H. Perkin, F.E. Mathews & E.H. Strange C.D. Harries Lebdev |
Ingleses, alemão e russo. Descobrem o processo de polimerização, obtendo polibutadieno. |
1914 | Fritz Hoffmann | Alemão. DDesenvolve o processo de produção, em escala industrial, de borracha metílica, a partir do dimetibutadieno. |
1916 | Fernley H. Banbury | Regista a patente do misturador interno. |
1920 | Bruni & Romani Sebrell & Bedford |
Itália. EUA. Descobrem o efeito “acelerador” do mercaptobenzotiazol (MBT). |
1922 | M.L. Weiss | Inglês. Descobre o efeito “acelerador” da difenilguanidina. |
1924 | Wincklemann & Gray | Americanos. Descobrem o efeito “antioxidante” do aldol-alfa-naftilamina. |
1929 | Bock & Tschunker | Alemães. Desenvolvem na I.G. Farbenindustrie o processo de fabricação da borracha de estireno e butadieno, com a designação de BUNA S. |
1930 | Thiokol Corp. I.G. Farbenindustrie |
Empresa americana. Inicia a produção de borracha de polissulfureto. Empresa alemã. Desenvolve o processo de fabrico de borracha de acrilonitrilo, com a denominação BUNA N. |
1931 | Dupont de Nemours | Empresa americana. Inicia a produção de borracha de policloropreno, com o nome Duprene. Esta borracha foi desenvolvida por Carothers e Collins. Mais tarde (1936) esta borracha sintética passou a designar-se por Neopreno. |
1932 | Calcott & Douglass | Americanos. Descobrem o efeito “antioxidante” da butiraldeídoanilina. |
1934 | Melvin Mooney | Americano. Inventa o viscosímetro de disco rotativo. |
1939 | Sparks & Thomas | Americanos. Desenvolvem o processo de fabrico de borracha butílica, cuja produção é iniciada nos Estados Unidos da América do Norte. |
1939-1945 | Estados Unidos da América do Norte |
É desenvolvido nos EUA-Norte o processo de fabrico da borracha de estireno-butadieno (então designada por GR-S: Government Rubber Styrene) e o processo de fabrico da borracha de acrilo-nitrilo (então desiganada por GR-A). |
1942 | Dow Corning Corp. | Empresa americana. Inicia a produção de borracha de silicone. O desenvolvimento desta borracha deve-se ao americano F.S. Kiping. |
1955 | Goodrich-Gulf Chemicals Inc. e Firestone Tire & Rubber Co. | Empresas americanas. É iniciada a produção de borracha de poli-isopreno, cujo desenvolvimento se deve ao americano Staveley. É iniciada a fabricação de SBR-OE pela empresa The General Tire and Rubber Co.. É desenvolvida, pela empresa italiana Montecatini, a borracha EPDM. |
1957 | Dupont de Nemours | Empresa americana. Início da produção de borracha fluorada (FKM), desenvolvida por Dixon. |
1962 | Mentecatini | Empresa italiana. Início da produção, em escala industrial, de borracha EPDM. |
1. Le Caoutchouc
Jean Le Bras, Presses Universitaires de France, 1969.
2. Le Caoutchouc
Amédée Fayol, Librairie Polytechnique Ch. Béranger, 1909.
3. Heat Transfer & Vulcanization of Rubber
D.A. Hills, Applied Science Publishers Ltd., 1971.
4. Indústria da Borracha e Pneus
Dr. Nuno Simões, Relatório 7.5 presentado en lo II Congreso de la Indústria
Portuguesa, 1957.
5. Brief History of Rubber and Rubber Elasticity
Nakagawa, International Polymer Science & Technology, Vol.9, Nº8, 1982, p.T69-T74.
6. Rubber Technology and Manufacture
C.M. Blow e C. Hepburn, Butterworths, 1982.
7. Borracha Sintética – A história de uma indústria
International Institute of Synthetic Rubber Producers, Inc., 1973.
8. History of Synthetic Rubber from Genesis to the Revelation
S.E. Horne Jr., Polysar Inc., ACS Meeting, Philadelphia, August 30, 1984.
9. Sir Henry Wickham: British Pioneer
A brief summary of the life story of the British pioneer, including an account of the
inception of plantation rubber.
Edward V. Lane, Rubber Age, August 1953, p. 649-656.
10. Encyclopédie Technologique de L’Industrie du Caoutchouc
Génin e B. Morisson, Vol. I, Dunod, 1958.
11. The World Rubber Industry
Colin Barlow, Sisira Jayasuriya e C. Suan Tan, Routeledge, 1994.
Revisão 1 – Os Quadros 1, 2 e 3 foram actualizados em 2020JUL12
Revisão 2 – Os Quadros 1, 2 e 3 foram novamente actualizados em 2021JUN05