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A Inspecção de carcaças é a operação que se segue à Recepção de carcaças. A execução desta operação depende do tipo de equipamentos disponíveis na empresa. Tanto pode ser uma simples, mas rigorosa inspecção visual, táctil e auditiva, efectuada num abridor de pneus (Figura 8), como pode ser conduzida em equipamentos que utilizam técnicas mais modernas, como xerografia, ultra-sons, raios X, alta voltagem ou altas pressões.
Figura 8 – Abridor de pneus
Cortesia Italmatic, S.r.l, Milão, Itália.
Os Regulamentos ECE/ONU 108 e 109 estabelecem que as carcaças, nas quais sejam visíveis danos provocados por sobrecargas ou pressões baixas, não devem ser recauchutadas.
O Regulamento ECE/ONU 108 estabelece também que não devem ser recauchutadas as carcaças de pneus radiais que apresentem separação na cinta, com excepção de pequenas separações nas suas extremidades.
Na inspecção de carcaças é efectuado um exame preliminar do piso, paredes laterais e talões, para detectar eventuais danos não reparáveis – os que se indicam no Quadro 1, e que são definidos pelos Regulamentos ECE/ONU 108 e 109); a detecção de danos deste tipo será equivalente a uma carcaça recusada, ou para assinalar, com o respectivo símbolo, aqueles danos que são considerados reparáveis.
Quadro 1 – Danos não reparáveis | |
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Regulamento ECE/ONU 108 | Regulamento ECE/ONU 109 |
Fendas ou cortes extensos na borracha estendendo-se até à carcaça. | Fendas não reparáveis na borracha, estendendo-se até à carcaça. |
Penetrações na carcaça ou danos no invólucro em pneus com símbolos de velocidade acima de «H», excepto quando estes pneus se destinam a ser reclassificados para símbolos de velocidade inferior. | Roturas na carcaça ou desgaste devido à preparação do recondicionamento. |
Reparações anteriores que não cumprem os limites de danos indicados no parágrafo 5.3 do regulamento. | Reparações anteriores de danos considerados como não reparáveis – ver o parágrafo 5.3 do regulamento. |
Carcaça rebentada. | Carcaça rebentada. |
Carcaça bastante atacada por óleo ou outros produtos químicos. | Sinais importantes de ataque da carcaça por óleo ou outros produtos químicos. |
Danos múltiplos demasiado próximos uns dos outros. | Danos múltiplos demasiado próximos uns dos outros. |
Talões partidos ou com outros danos. | Deterioração ou rotura do talão. |
Deterioração ou danos não reparáveis na camada interna. | Deterioração substancial do revestimento interior. |
Dano no talão que exceda um pequeno dano na borracha. | Fendas circunferenciais acima do talão. |
Cordas expostas por desgaste ou raspagem da parede. | Cordas da carcaça à vista. |
Separações não reparáveis do piso ou parede lateral, em relação à carcaça. | Cordas descoladas. |
Dano na estrutura na zona da parede lateral. | Separação de telas. |
Deformação ou torção permanente de cordas em aço da carcaça. | |
Oxidação das cordas metálicas ou dos arames de aço do talão. |
Os símbolos para identificar os diferentes tipos de danos reparáveis não estão normalizados, mas recomendamos os que se indicam no Quadro 2.
Quadro 2 – Símbolos para identificação de danos reparáveis | |
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Símbolo | Descrição do tipo de reparação |
O | Reparação localizada – só borracha
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# | Perfuração (furo)
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⊥ | Reparação seccional com remendo (manchão)
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+ | Reparação de perfuração tipo furo de prego ou dano profundo no piso, ombro ou parede lateral, com remendo (manchão)
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XP | Substituição de remendo (manchão)
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O método de inspecção visual, táctil e auditivo implica uma grande experiência dos operadores, de forma a garantir uma correcta avaliação do estado das carcaças. É um método que se aplica com bastante êxito a pneus para veículos ligeiros de passageiros, mercê da sua estrutura mais aligeirada, que torna mais fácil a detecção de anomalias pelo simples tacto.
A carcaça é batida com pancada seca, com um martelo de cabeça esférica, em toda a circunferência do piso, para detectar eventuais separações. Se estas existirem, a carcaça é desde logo rejeitada.
As carcaças de pneus pesados são batidas com o martelo de cabeça esférica em toda a periferia de cada talão e terminação da tela de corpo (parte inferior da zona baixa do pneu) para detectar eventuais separações. Se estas existirem, a carcaça é rejeitada.
Em seguida, a carcaça é montada na máquina de inspecção (abridor) e com a ajuda de fontes de iluminação móvel, procede-se a um exame cuidadoso na parte externa da carcaça, do piso, paredes laterais e talões. A carcaça é então girada na máquina e neste movimento é observada e acompanhada com a mão livre para detectar eventuais separações. Devem ser assinalados, com o respectivo código, os danos reparáveis, se detectados. A carcaça é rejeitada caso sejam detectados danos não reparáveis.
Com a ajuda da fonte de iluminação móvel, procede-se a um exame cuidadoso do interior da carcaça. A carcaça é girada e, neste movimento, é observada e acompanhada com a mão livre para detectar eventuais danos ou irregularidades. São assinalados os danos reparáveis com o respectivo código. A carcaça é rejeitada caso sejam detectados danos não reparáveis. Com o martelo de cabeça esférica, bate-se com pancada seca em toda a circunferência interna do pneu, na área do piso, para detectar eventuais separações.
Assinala-se que os regulamentos ECE/ONU 108 e ECE/ONU 109 definem o que são danos reparáveis e não reparáveis. Contudo, o critério do recauchutador pode ser sempre mais apertado, portanto ainda mais restritivo.
Os Regulamentos ECE/ONU 108 (§ 6.7.1) e 109 (§ 6.5.1) estabelecem que durante ou após a recauchutagem, o pneu deve ser insuflado a uma pressão de pelo menos 1,5 bar, para exame. Se o perfil do pneu apresentar qualquer defeito visível (por exemplo, bolha, depressão, etc.), deve ser objecto de um exame específico com vista a determinar a causa do defeito. Recomendamos que essa inspecção sob pressão seja efectuada após as operações de inspecção já referidas. Essa inspecção é realizada em equipamentos adequados para o efeito (Figura 9), em perfeitas condições de segurança e com pressões superiores a 1,5 bar, de acordo com o tipo de pneu.
Fig. 9 – Máquina para inspecção de pneus sob pressão (Pressões 2, 4 e 8 atm.)
Cortesia Italmatic, S.r.l, Milão, Itália.
Chama-se também a atenção para o facto de muitas vezes serem detectados danos não reparáveis noutras fases do processo. Por exemplo, muitos danos que passam nas operações precedentes são detectados quando da operação de Grosagem das Carcaças ou mesmo em fases mais avançadas.
Terminada a inspecção da carcaça, o responsável pela operação deve preencher a Ficha de Identificação do Pneu, indicando também todos os aspectos relevantes, nomeadamente se existem danos a reparar; a carcaça é então enviada para a operação seguinte (pode ser a Reparação ou a Grosagem).
À operação de Inspecção de Carcaças deve corresponder uma Instrução de Trabalho, onde estejam bem definidas as tarefas a executar. Por outro lado, o responsável por esta operação deve conhecer bem os critérios de rejeição de carcaças, no que diz respeito a danos não reparáveis. Para o efeito, deve ter ao seu dispor as especificações que os definem para os Regulamentos ECE/ONU 108 ou ECE/ONU 109, para que os consulte em caso de dúvida, e um Plano de Controlo.
Os requisitos observados nesta operação correspondem ao parágrafo Nº 6.4 do Regulamento ECE/ONU 108 e ao parágrafo Nº 6.2 do Regulamento ECE/ONU 109.