Pneus

 

Preâmbulo

Considero que deveria tecer alguns comentários prévios sobre este tema. E porquê?

Porque muita gente me considera que não sou um técnico de pneus. De certo modo é verdade, mas…

Em boa verdade eu também fabriquei pneus: para velocípedes simples e motorizados, é certo; mas também são Pneus! E durante duas décadas! E somente deixei de os fazer, quando Portugal começou a ser invadido por pneus fabricados em Taiwan, China e Índia. E que aqui chegavam a preços com os quais não podíamos, de facto, concorrer. Fecharam as fábricas de pneus e também, posteriormente, a maior parte das fábricas de velocípedes. É que, depois dos pneus…começaram a chegar também as próprias bicicletas! A baixo preço, claro está. E a Europa de então, tal como a de hoje (e que incentiva o dolce farniente) resignou-se a tal invasão e as fábricas da já chamada União Europeia foram fechando sucessivamente as suas instalações no velho continente e algumas transferiram-nas para os países asiáticos. Isto é, criaram-se empregos nos países asiáticos e aumentou-se o desemprego na velha Europa! E a isto se chama Globalização!

Claro que a tecnologia de um pneu para velocípede – mesmo para velocípedes motorizados – é muito menos exigente e complicada que a tecnologia envolvida no fabrico de pneus para os diversos tipos de veículos automóveis, incluindo também as aeronaves. Mas nunca me dei por satisfeito em fazer aquilo que durante alguns anos vi fazer. Em qualquer dos artefactos de borracha produzidos sempre quis saber as razões técnicas e tecnológicas que estavam na base dos materiais, das técnicas e dos métodos e processos utilizados.

E assim, concretamente em 23 de Março de 1982 adquiri um livro intitulado Mechanics of Pneumatic Tires, uma publicação do U.S. Department of Transportation e editado por Samuel K. Clark. Um livro excelente, de 885 páginas, sobretudo direccionado para os pneus para veículos automóveis (de passageiros e de mercadorias) e também para aeronaves, mas contendo, felizmente, algumas páginas sobre a família mais pobre dos cycle tires – afinal os pneus que me interessavam. E este famoso livro ajudou-me, de facto, a compreender muitos dos porquês com que me deparava.

Mas devo dizer também que andei sempre por muito perto do fabrico de pneus, que não os de velocípedes. Primeiramente, quando a Fapobol Lda. decidiu instalar, em 1966, uma fábrica de pneus para veículos de passageiros e de mercadorias. Os meus contactos com a Fábrica de Pneus Fapobol SARL (pneus fabricados com a tecnologia da Continental Reifenwerke) foram, a partir de 1968, relativamente frequentes e daí, alguma aprendizagem adquirida. Isso também aconteceu mais tarde, na empresa Mabor-DAP, onde estive também por perto do fabrico de pneus na empresa-mãe Mabor, com a tecnologia da General Tire. E alguma aprendizagem foi também adquirida. Somente não se aprende quando não se quer ou quando se anda de olhos fechados!

A Fapobol Lda. dedicava-se também ao fabrico de Materiais para Recauchutagem de Pneus. Assim sendo, os meus contactos e visitas a empresas de recauchutagem fizeram também parte da minha actividade profissional durante mais de duas décadas. E na área da recauchutagem também muito se aprende sobre pneus.

Mas foi no período compreendido entre 2003 e 2006 que um apreciável trabalho foi desenvolvido, no terreno, em empresas de recauchutagem, com a finalidade de preparar as empresas para a sua homologação pelos Regulamentos ECE/ONU 108 e 109. E desta feita, em conjunto com o meu Colega e Amigo Eng.º Cepeda Matos, tivemos a honra e o privilégio de obter a homologação de quatro recauchutagens nacionais. A partir de 2006 os contactos com recauchutagens são menos frequentes, mas ainda é dado apoio na área da formação, na gestão do sistema de homologação e também em questões ambientais. E desta acção conjunta muito aprendi também sobre pneus. E deste facto já dei publicamente conta nesta página!

Mas sei que existe alguma animosidade por parte de alguns colegas da área dos pneus. E este facto explica, de certo modo, a razão deste preâmbulo. Não sou de facto, um técnico de pneus, mas sei alguma coisa sobre pneus e, concretamente sobre aquilo que vou apresentar nas páginas deste capítulo. E que me perdoem os experts desta matéria, aquilo que eu disser de errado. Mas o que estiver errado corrijam-me, por favor! Eu agradecerei, reconhecidamente. Continuo a gostar de aprender!

Mário J. L. Caetano