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Tal como a generalidade dos materiais de natureza essencialmente orgânica, as borrachas são materiais combustíveis. A sua maior ou menor combustibilidade é caracterizada por parâmetros, alguns dos quais já analisamos (veja-se “Índice Limite de Oxigénio (LOI)” e “Ensaios de Resistência à Chama“). Um outro parâmetro é a temperatura de auto-ignição.
A temperatura de auto-ignição de uma substância é a temperatura mínima à qual a substância entra em combustão expontânea, numa atmosfera normal e sem o recurso a uma fonte de ignição externa. A temperatura de auto-ignição de uma substância decresce quando a pressão atmosférica aumenta ou quando aumenta a concentração de oxigénio.
Dados históricos revelam a ocorrência de grandes incêndios, por ignição expontânea, em grandes depósitos de pneus fora de uso (pneus inteiros ou pneus em estado de desagregação). Os registos das ocorrências apresentam, como factor comum, que estes depósitos possuíam, em geral, mais de 3 metros de altura; o que é muito pouco para caracterizar a origem do incêndio.
Na realidade não são conhecidas as causas reais que provocaram as auto-ignições. É pacificamente aceite que a artefactos de borracha ou pneus, na condição de moídos, apresentam uma maior susceptibilidade de sofrerem auto-ignição, uma vez que apresentam uma maior área superficial e uma maior permeabilidade aos fluxos de ar.
Embora o aterro de pneus seja proibido na União Europeia, a verdade é que nos armazéns das fábricas de pneumáticos, nos pontos de recolha de pneus em fim de vida, nos parques de armazenamento de pneus em fim de vida existentes nas unidades de reciclagem e mesmo nos parques de armazenagem de granulados de pneu existem sempre riscos de incêndio, nos quais se devem incluir os riscos de auto-ignição.
Os incêndios em armazéns de pneus novos ou em depósitos de pneus em fim de vida não são novidade em Portugal e já ocorreram várias vezes. A maior parte das vezes com origem ou causa desconhecida.
Os estudos que ao longo dos anos tem vindo a ser realizados para tentar identificar as possíveis causas que podem proporcionar condições para a ocorrência de auto-ignição de produtos de borracha, conduziram aos seguintes resultados:
Estas possíveis causas, isoladamente ou associadas, poderão estar na base da ocorrência de fenómenos de auto-ignição, que se manifestam, primeiramente, de forma latente, mas que podem degenerar, posteriormente, em incêndios de grandes proporções. As condições ambientais tais como um baixo grau de humidade e uma alta temperatura, podem também contribuir para o favorecimento de condições de auto-ignição.
As temperaturas de auto-ignição podem ser determinadas em laboratório, aquecendo gradualmente o material em estudo, com forma, orientação geométrica e dimensões bem definidas, em atmosferas devidamente controladas, até que ocorra a sua auto-ignição. Não existe ainda muita normalização para este tipo de ensaios. A norma existente, embora aplicável a substâncias líquidas, pode ser adaptada para a determinação da temperatura de auto-ignição de substâncias sólidas (ASTM E659-78 (2005): Standard Test Method for Autoignition Temperature of Liquid Chemicals).
Na Tabela 19 indicam-se as temperaturas de auto-ignição de alguns tipos de borracha e de produtos à base de borracha.
Tabela 19 – Temperaturas de auto-ignição |
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Material | Temperatura de auto-ignição (AIT) ºC |
Adesivo contacto à base policloropreno | 404 – 522 |
Borracha (não especificada) | 260 – 316 |
Borracha acetato de vinilo e etileno (EVA) | 330 – 410 |
Borracha acrilonitrilo (NBR) | 310 – 380 |
Borracha de Politetrafluoroetileno (PTFE) | 438 – 575 |
Borracha estireno-butadieno (SBR 1500) | 246 –338 |
Borracha estireno-butadieno (SBR-OE) | 388 |
Borracha epiclorohidrina (ECO) | 416 |
Borracha etileno-propileno-dieno (EPDM) | 204 |
Borracha fluorada (FKM) | 268 – 321 |
Borracha mistura-mãe SBR-negro de carbono | > 246 |
Borracha natural, polímero (NR) | > 300 |
Borracha perfluorada (FFKM) | 313 – 370 |
Borracha policloropreno (CR) | 381 |
Borracha regenerada | > 200 |
Borracha silicone (Q) | 279 – 450 |
Borracha silicone líquido (LSR) | 300 – 316 |
Borracha termoplástica (Polipropileno-EPDM) | 343 |
Borracha termoplástica poliéter/poliéster (TPEE) | > 420 |
Cola de borracha (solvente alifático) | 225 |
Cola de borracha (solvente não revelado) | 203,8 |
Desperdícios de borracha | 512 |
Enxofre | 248 – 266 |
Granulado de borracha (rubber crumb) | 370 – 513 |
Pó de borracha finamente dividido | 320 |
Silano | < 21°C |